Voltar ao blog Patrimônio Imaterial da UNESCO em Portugal
Marco Moura |

Patrimônio Imaterial da UNESCO em Portugal

 

A globalização acelerada do mundo trouxe inovações e conexões tão maravilhosas como fantásticas e impensáveis, há umas décadas. Informação, transporte, ciência, viagens, trocas culturais e comerciais intensas, são apenas algumas delas. Mas também trouxe novos perigos e ameaças. Ao que consideramos como local, artesanal, familiar, autêntico. É neste contexto duplo de movimento, feito a uma velocidade estonteante, que podemos compreender o porquê de associações e instituições nacionais bem como internacionais, encararem a luta pela preservação de expressões culturais de valor, como uma prioridade.

O Património Cultural Imaterial (PCI) reconhecido pela Unesco é um exemplo dessa luta. Trata-se de preservar, recuperar e projetar a sua sustentabilidade no futuro. Como? Ao identificar, reconhecer e apoiar expressões culturais que sejam um manancial de conhecimento, de interpretação e de experiência com os territórios e as comunidades a que pertencem. Com relevância e valor para os que os produzem e para todos os que podem usufruir das enormes riquezas imateriais ou intangíveis que existem. Para isso é preciso também divulgar. E as viagens e turismo podem e devem ser áreas que participem nessa valorização, de forma equilibrada e sustentada.

O processo da candidatura a Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco, desde a sua planificação, á submissão e apreciação, e á sua aprovação e inscrição, é um processo longo e exigente. De todo esse processo convém ressalvar o factor humano como o critério mais importante.

Este artigo tem como principais objectivos os de dar a conhecer, valorizar, e divulgar todas estas “culturas imateriais” de Portugal.

 

Portugal tem 9 expressões de cultura, inscritas na lista representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade reconhecidos pela Unesco:

  1. Fado, canção popular urbana (2011)
  2. Dieta Mediterrânea (2013)
  3. Cante Alentejano (2014)
  4. Produção Artesanal de Badalos (2015)
  5. Falcoaria (2016)
  6. Produção da Cerâmica Negra de Bisalhães (2016)
  7. Artesanato de Figuras de Barro de Estremoz (2017)
  8. Carnaval de Podence (2019)
  9. Filigrana de Gondomar (2023)

 

1. Fado

 

 

O que é o Fado?

O fado é um estilo musical típico de Portugal, nascido no contexto urbano de Lisboa, no Séc. XIX. Geralmente é cantado por uma só pessoa, fadista, acompanhada por uma guitarra clássica ou viola e uma guitarra portuguesa. A palavra fado deriva do latim, «fatum», e é entendida na língua portuguesa como destino, sorte ou azar, fortuna. É também uma forma de viver, sentir e exprimir na forma de canção popular, os altos e baixos que a vida tem. E o sentimento de saudade que os portugueses consideram tão seu.

O Fado, nasceu nos contextos populares de Lisboa a partir do sec. XIX. Cantava-se Fado, muitas vezes de forma espontânea, principalmente em momentos de convívio e lazer ou eventos festivos, em contextos sociais e lugares físicos associados a marginalidade e às classes baixas da população.

A partir das primeiras décadas do sec. XX o fado vai-se divulgando e começando a ser conhecido em todas as franjas da sociedade. Ganha uma perspetiva comercial e começa também a ser nacional.

No decorrer do sec. XX o Fado é elevado a categoria de símbolo ou arte nacional, muito pelo uso político que o influenciou, e pelas novas tecnologias como o rádio e a televisão que o redimensionaram. É por esta altura, que também começa a ser internacional.

Com a revolução de Abril de 1974 é instaurado o Estado democrático, e o fado sofre um bocado nos anos de transição, devido ao seu passado como símbolo da ditadura, mas rapidamente acede ao consenso nacional como património musical português. Figuras incontornáveis desta nova transformação do fado foram Amália Rodrigues e Carlos do Carmo, principalmente na década de 80.

A partir dos anos 90 o fado consagrar-se-ia, definitivamente, nos circuitos da música internacional com fadistas como, Camané, Mariza, Carminho, Mísia, Cristina Branco, Cuca Roseta, Gisela João, Ana Moura. Apenas para dar alguns exemplos.

 

Características do Fado

Como vimos o fado é cantado por uma só pessoa, fadista, acompanhada por uma guitarra clássica ou viola e uma guitarra portuguesa. Pode, no entanto, haver duetos e outros instrumentos para além das guitarras. A simplicidade da estrutura melódica do Fado valoriza a interpretação da voz. Uma voz que costuma ser forte e cheia de alma sentida. É por isso fácil a identificação entre intérprete, músicos e ouvinte.

Existem canções de fado mais tristes e melancólicas e outras muito alegres. Entre os temas mais cantados, podemos ouvir letras sobre amor, quotidiano, destino individual, saudade, festa e romaria, pessoas populares de uma cidade, vinganças e desgraças, sentimentos elevados de pertença, existência nos altos e baixos da nossa condição humana.

Também existem vários tipos de fado. São mais de duas dezenas. O fado mais antigo é o "fado do marinheiro", a partir do qual derivam todos os outros. Fado boémio, fado castiço, fado corrido, fado mouraria, fado vadio, são apenas alguns exemplos dos diversos tipos de fado.

Indissociável do fado é a guitarra portuguesa. Este instrumento alinha 6 pares de cordas, 12 no total. Tem um som agudo, estridente, mas muito claro e nítido. Ainda é produzida de forma artesanal ou semi-artesanal. Entre algumas referências incontornáveis da guitarra portuguesa podemos destacar Armando Augusto Freire, Carlos Paredes e o seu pai, Artur Paredes.

 

Onde se pode ouvir fado em Portugal?

Espalhado um pouco por todo o país a tradição do fado é mais forte em Lisboa, Coimbra, e em menor grau no Porto. Podemos ouvir fado nas ruas, casas de fado, salas de espetáculo, bares, restaurantes, festivais de música e em casas ou eventos particulares. Existem algumas diferenças entre o fado cantado em Lisboa e Coimbra. Em Coimbra só os homens podem cantar, a afinação da guitarra portuguesa é feita em um tom abaixo, e a técnica de execução é diferente por forma a projetar o som do instrumento nos espaços exteriores.

Em Lisboa pode encontrar casas de fado típicas nos bairros da Mouraria, Bairro Alto, Alfama.

Espetáculos de fado em Lisboa

Espetáculo de fado no Porto com jantar

Espetáculo de fado em Coimbra e passeio noturno

Dica ao assistir a um espetáculo de fado: não é aconselhável bater palmas entre as músicas. Apenas no fim do espetáculo.

 

 

O Fado é uma das expressões culturais, mais apreciada e procurada, quer pelos portugueses quer por quem nos visita. É uma expressão do autêntico que existe em cada ser-humano. Um encontro, senão com a alma portuguesa, pelo menos com a sua.

Ano de inscrição: 2011

 

2. Dieta Mediterrânica

 

 

O valor da Dieta Mediterrânea, e o que é, deve ser compreendido como um complexo natural, social e cultural. É nesta dimensão tripla que foi inscrita como Património Cultural Imaterial da Humanidade. Entre os países incluídos estão Portugal, Chipre, Croácia, Espanha, Grécia, Itália e Marrocos.

 

O que é a Dieta Mediterrânea?

A dieta mediterrânea é um modo de vida (e deriva da palavra grega “díaita”). Compreende por isso história, cultura, educação, contexto social e familiar, e alimentação ou nutrição. É vasta ao ponto de considerar, métodos de produção e recolha, transformação, conservação e consumo de alimentos; integrados com praticas culturais especificas, competências, conhecimentos, práticas e tradições, que produzem identidade; integrados em dinâmicas e tecidos sociais próprios, nos países abrangidos.  

Foi definida e divulgada na década de 50, sec.XX, pelo o médico norte-americano Ancel Keys, que realizou vários estudos na região. Desde então tem sido promovida e popularizada em todo mundo, pelos benefícios comprovados para a saúde física e mental.

 

Alimentos da Dieta Mediterrânea e características nutricionais:

  • Consumo elevado e variado de alimentos de origem vegetal. Produtos hortícolas em geral.
  • Consumo de produtos frescos, pouco processados e locais, respeitando a sua sazonalidade.
  • Consumo moderado de lacticínios, leite, queijos, iogurtes.
  • Utilização do azeite como principal gordura para cozinhar ou temperar alimentos; óleos vegetais como óleo de canola e de linhaça.
  • Frutos secos com alto teor oleaginoso, tais como amêndoas, nozes, cajus, amendoins, avelãs.
  • Consumo frequente de peixe e outros frutos do mar ou rio.
  • Consumo em pequenas proporções e pouco frequente de carnes vermelhas.
  • Alimentos integrais como arroz, farinha, aveia e macarrão integral, que são ricos em fibras
  • Ervas aromáticas para temperar em detrimento do sal.
  • A água como a bebida base, ingerida em quantidades diárias altas; sumos naturais; consumo moderado de vinho, de preferência tinto maduro.

 

Benefícios para a saúde:

  • Promove a longevidade
  • Estimula mais energia e pratica de desporto
  • Melhora o metabolismo e favorece o controle do peso
  • Mais e melhores nutrientes do que alimentos muito transformados
  • Melhora a saúde cardiovascular e previne doenças cardíacas.
  • Menor incidencia de Parkinson, Alzheimer
  • Redução do colesterol prejudicial
  • Ajuda a prevenir alguns tipos de cancro como o de intestino e o de mama
  • No geral eleva a qualidade de vida e bem-estar. Se praticada regularmente.

 

Características Socio-culturais da Dieta Mediterrânea:

Combinado com os alimentos e valor nutricional a dieta mediterrânea também inclui o contexto social, profissional, cultural e familiar. Desde logo no conhecimento, saberes, técnicas, e modus operandi, da produção ou recolha dos alimentos. Agricultura, pesca e pecuária são áreas de excelência. Muitas vezes exercidas de forma artesanal ou semi-artesanal, privilegiam os alimentos frescos e abundantes no ecossistema local.

Privilegia a compra a fornecedores locais e respeita a sazonalidade dos produtos. E claro, o próprio modo de cozinhar. Usando práticas culinárias simples e com os ingredientes nas proporções certas. Fazendo uso de receitas e segredos tradicionais, muitas vezes passados de geração em geração por via oral, e refinadas pela experimentação no dia a dia. Também serve por isso a educação alimentar e gastronómica.

Nas culturas mediterrâneas onde a dieta é comum, as refeições são quase sempre feitas em grupo. Podem ser grupos de familiares, de amigos, mesmo de clientes. Ou mistos. Servem também para construir e reforçar relações entre aqueles que se sentam a uma mesma mesa. Servem também a prática de costumes locais e celebrações. Acontecem normalmente a horas fixas, dependendo do país ou região. Características que não são tão vincadas em países fora da esfera mediterrânea.

As mulheres desempenham um papel fundamental tanto na transmissão de práticas e conhecimentos técnicos, do como fazer, como também de rituais, gestos, e dizeres com saber.

Inspire-se na Dieta Mediterrânea como acrescento ao seu bem-estar e conhecimento. Pela sua saúde, e pela dos outros.

Ano de inscrição: 2013

 

3. Cante Atentejano

 

 

O cante alentejano é um género musical tradicional da região do Alentejo, no sul de Portugal. O cante alentejano é um canto coral com duas vozes solistas (ponto e alto) que alternam com um coro, no qual também participam. É muitas vezes cantado sem qualquer instrumento musical, mas mais recentemente já se faz bastante acompanhamento, complementando as vozes, donde provém a sua essência. É principalmente associado às terras o Baixo Alentejo, e às classes rurais cujo trabalho se fazia em grande parte no setor agrícola e de extração mineira, durante o final do século XIX e século XX.

O cante Alentejano distingue-se de outros cantos polifónicos pela performance, pela técnica do canto, e pelos temas que aborda.

Na performance é usual o uso de trajes de trabalho, a disposição em linhas ascendentes dos elementos do coro, o destaque ou não dos solistas. O agarrar de braços entre os que o cantam. O uso de microfone só é utilizado em espetáculos profissionais ou com publico numeroso. Os conjuntos que actuam, são usualmente grupos corais, alguns deles já centenários. Os contextos da atuação são tradicionalmente informais, durante o trabalho no campo, nas tavernas ou em momentos de festa.

A técnica do canto, e sua musicalidade, assenta em uma composição constituída por por um ponto (o primeiro solista), o alto (um segundo solista que se sobrepõe ao ponto), e por fim o coro ou as segundas vozes. O ritmo é repetitivo e lento com pausas frequentes, marcantes, se não houver instrumentos a acompanhar.

Isto confere uma musicalidade ritmada e monótona, em que as vozes prolongam as palavras. Mas potente, saída da alma, reforçada pelo coro, profundo, gutural, telúrico até.

Os temas das canções, cantadas por grupos de homens ou mulheres, refletem muito a dureza da vida das gentes no Alentejo, com os seus dramas e tragédias reais. A melancolia, as saudades, o amor, as vontades e as recordações são também temas recorrentes. É por isso que existe a ideia de que é um tipo de canto triste. Mas na verdade, existem também canções alegres e festivas e ainda outras mais provocatórias, com letras irónicas e humorísticas.

Embora sejam associados aos grupos de homens, existem também grupos corais femininos. É uma partilha de contexto e experiências que transcende o género.

O cante alentejano não deixa ninguém indiferente. Ressoa das profundezas do corpo e da própria terra.

Ano de inscrição: 2014

 

4. Manufatura de Chocalhos

 

 

O chocalho português é um instrumento de percussão em ferro e pedaços de cobre, com um badalo interno único, parecido com um pequeno sino. É feito por um especialista, o chocalheiro, ou por um ferreiro que ocasionalmente faça estes objectos. O chocalho completo inclui o badalo, a correia e a fivela.

É utilizado tradicionalmente pelos pastores para localizar e controlar os seus rebanhos, que usam o chocalho ao redor dos pescoços dos animais criando uma sonoridade única nas zonas rurais. E diferenciada, dado que o som dos chocalhos é diverso, permitindo distinguir os rebanhos. Também é usado em certas festividades populares.

Vestígios de chocalhos e da sua arte de produção, foram encontrados na Península Ibérica, remontando séc. I a.C. Uma arte e prática antigas usadas pelos celtiberos e romanos, na pastorícia e transumância.

 

Modo de produção artesanal

O ferro utilizado na produção dos chocalhos é martelado a frio e dobrado na bigorna até ficar em forma de taça. Pequenos pedaços de cobre ou estanho são colocados à volta do ferro. O conjunto é envolvido por uma mistura de barro e palha. É cozida e, em seguida, mergulhada em água gelada para solidificar mais rápido. Depois de removido o barro e palha queimados, o cobre ou estanho que cobre o ferro é polido e o tom do sino é afinado.

O tamanho dos chocalhos é muito variável e os sons podem ser muito distintos também.

O conhecimento técnico é transmitido no seio da família, de pais para filhos. É por isso uma actividade que evoluiu em contexto familiar.

 

O Presente e o Futuro

Em Portugal, Alcáçovas é o lugar de referência no fabrico de chocalhos. É aqui que se pode visitar o Museu do Chocalho, com um espólio de mais de 3.000 peças recolhida ao longo de 60 anos. Pode também ser encontrado em Estremoz, Reguengos de Monsaraz e Viana do Alentejo.

Devido às mudanças na pastorícia que se tornou menos habitual, e á produção com meios e técnicas industriais, a produção tradicional do chocalho têm vindo a diminuir drasticamente. Por isso a Unesco o classificou de Património Imaterial a necessitar de “Salvaguarda Urgente”. De facto, existem apenas 11 oficinas e 13 fabricantes de chocalhos, 9 dos quais têm mais de 70 anos de idade, segundo a Comissão Nacional da Unesco.

Ainda hoje se pode ouvir o som distinto dos chocalhos e rebanhos ao visitar o interior mais rural de Portugal. Identitário dos campos e do mundo rural português, peça fulcral na criação da paisagem sonora desses lugares.

Ano de inscrição: 2015

 

5. Processo de confeção da Louça Preta de Bisalhães

 

 

Bisalhães é uma aldeia situada na encosta sul da freguesia de Mondrões, concelho de Vila Real, em Portugal. Famosa pela sua produção de olaria negra ou louça negra.

Existem dois tipos de louça negra: a “louça churra” e a “louça fina”. A primeira é como se denomina as peças mais grosseiras sem grandes decorações, utilizadas no dia a dia; a segunda é como se denomina as peças com pormenores mais artísticos e trabalhados, utilizadas principalmente para decoração.

O processo de confeção da olaria de Bisalhães remonta, pelo menos, ao século XVI. A sua produção foi incrementada no sec. XVIII, pela afluência numerosa de pessoas para trabalhar nos socalcos e vinhas do Douro.

Este método centenário, desde a preparação do barro à cozedura da louça, foi o primeiro registo cultural de âmbito produtivo, em que o fator do trabalho humano é central.

 

Processo de confeção e o seu valor Imaterial

A riqueza imaterial do processo de confeção da louça preta de Bisalhães provém do conjunto de técnicas e saberes que envolve, desde o tratamento da matéria-prima à cozedura dos objectos. É um processo complexo que resumidamente passa por: obtenção de barro de qualidade, e preparação do mesmo; o dar forma, com a arte do oleiro e diversos instrumentos, como o augueiro ou o fanadouro, e técnicas especificas; o alisar ou “cocar” das peças e posterior decoração; e por fim a cozedura das peças.

A cor negra da louça é conseguida ao cozer as peças feitas pelos oleiros em fornos abertos na terra, onde são queimados arbustos secos, sendo depois abafadas com terra que se misturada com o fumo de tom escuro.

Este conhecimento é transmitido oralmente, de pessoa para pessoa, normalmente de pai para filho ou de avô para neto, e mesmo dentro da comunidade local a parentes ou amigos chegados.

Esta louça negra, que é produzida durante todo o ano, é uma atividade familiar com divisão sexual e etária do trabalho vincada. O homem e filhos mais velhos são responsáveis pelas tarefas mais pesadas e arriscadas, de trabalhar na roda e enfornar a louça. A mulher e filhos menores, dedicam-se a trabalhos menos pesados, como a preparação do barro, o abastecimento de água e da carqueja para a cozedura do barro e decorar a louça. As mulheres também ficavam encarregues das vendas. É por isso um processo de economia familiar.

A importância que esta actividade têm, foi reconhecido pela Unesco. Quer para a comunidade local, pelo impacto histórico-cultural deste património material, e no conhecimento imaterial que envolve. Também está classificado como “salvaguarda urgente” para assegurar e promover a sua continuidade. Existem menos de 10 oleiros profissionais.

Se viajar pelo interior norte e centro de Portugal, ainda encontrará exemplares de louça negra em casas comerciais e particulares.

Ano de inscrição: 2016

 

6. Falcoaria

 

 

A falcoaria ou cetraria é um tipo de caça feita por um humano, o falcoeiro(a), e uma ave de presa, que trabalham em equipa, para caçar animais selvagens no seu meio natural. Em algumas representações visuais aparece também associada á pratica guerreira, embora não pareça ter desempenhado papel relevante no reconhecimento ou confronto militares. Actualmente, esta prática está, também, ligada ao culto da beleza, do voo e da natureza. O valor mais elevado da falcoaria é o da beleza do lance de caça e não a da captura da presa, que é considerado secundário ou mesmo irrelevante.

A falcoaria é praticada em vários países por diversos continentes: Áustria, França, Hungria, Mongólia, Marrocos, Arábia Saudita, Espanha, Portugal são apenas alguns exemplos.

Tem seculos de existência, e a característica da sua prática ter sido pouco alterada ao longo do tempo. Técnicas, nomenclatura e materiais distintivos ainda hoje são utilizados, tal como foram no passado.

 

A parceria entre o Falcoeiro e a Ave de Presa

O falcoeiro deve conhecer as aves de presa, o seu treino, assegurar o seu bom tratamento e saúde, e as espécies a capturar nos seus habitats. Deve também possuir e saber usar equipamento e material especifico, bem como instalações próprias.

Aves de presa utilizadas: águias, açores, gaviões, abutres, falcões, caracarás, corujas. Em linguagem cetreira, estas espécies são distinguidas em "Nobres" como os falcões e "Ignóbeis" como as águias. Dentro das aves "nobres", consideradas as autênticas aves de cetraria, distingue-se ainda entre as de "alto-voo", ou seja, os Falcões, e as de "baixo-voo", como, os Gaviões. Estas distinções são dadas de acordo com certos aspectos práticos como a rapidez de voo, a forma de atacar ou a alimentação.

Na prática da falcoaria distinguem-se 3 tipos principais de lance:

  1. No Baixo Voo o lance é directo, curto e dinâmico. A ave de presa saí do punho do cetreiro (ou de uma árvore), em perseguição directa à presa, voando sempre junto ao solo.
  2. No Alto Voo o falcoeiro localiza a presa à distância e retira o caparão á ave de presa que inicia a perseguição durante grandes distâncias e muitas vezes a grande altura. É considerado um dos lances mais espetaculares e difíceis.
  3. Na Altanaria ou Altaneria o falcoeiro tem que manter a presa imobilizada (podendo ser ajudado por um cavalo ou cão), para permitir á ave de presa ganhar altitude e preparar-se para um ataque veloz e fulminante em descida. É considerado bastante emocionante e põe em evidencia a importância do trabalho de equipa.

Aos poucos, falcoeiro e ave de presa, forjam uma parceria única. No ambiente natural das suas presas, esta parceria desafia as estratégias naturais de fuga da presa, para conseguir a sua captura.

 

A prática da falcoaria está associada a valores ou ideias de ecologia, de respeito pelos habitats e suas criaturas e á proteção dos mesmos. É a arte de uma parceria, que é desenvolvida entre falcoeiro e ave de presa cuja melhor expressão é a beleza do lance de caça.

Actualmente, pode ser apreciada eventos promovidos por falcoarias ou em feiras medievais, um pouco por todo o país.

Ano de inscrição: 2016

 

7. Produção de Figurado de Barro de Estremoz

 

 

O conselho de Estremoz, no Alentejo é conhecido pela sua produção de figuras de barro, que se tornou emblema e símbolo da região. É o saber-fazer do figurado, a sua especificidade da modelação e estética, a originalidade da arte e processo de criação, quer nacional e internacional, que levou a Unesco ao seu reconhecimento como Património Imaterial da Humanidade. Para promoção e continuação da tradição também.

Foi a primeira vez que uma arte figurativa foi distinguida pela Unesco.

O acervo histórico desde o séc. XVII pode ser visto no Museu Municipal de Estremoz.

 

As Figuras de Barro e o processo de Produção

As figuras ou bonecos de barro de Estremoz são facilmente identificáveis devido aos detalhes e às cores vivas que estão presentes em todas as figurações.

As cores usadas são de grande variedade, mas destacam-se as primárias, o azul, o verde e o vermelho, a que podemos acrescentar o amarelo (cor secundária).

As formas das figuras são de proporções bastante realistas a maioria, mas também existem bonecos com proporções não realistas, segundo a intenção de quem as compra ou encomenda, ou ainda de quem as faz.

Humanos e animais, como o cavalo, a mula, ovelhas são as figuras mais comuns. Usualmente são representados com feições ou poses alegres. Por vezes os humanos são representados com objectos, ou em conjuntos compostos tais como filarmónicas ou presépios.

Os temas dos bonecos incluem actividades, festas, ícones religiosos ou civis, com indumentária local e tradicional, ou históricos como os “napoleões”, bonecos alusivos às fardas dos militares quando das invasões francesas. Têm em comum o de serem muito ligados à região de Estremoz.

 

O processo de produção do figurado de barro é tradicionalmente feito por mulheres, as bonequeiras, apesar de agora se encontrarem artesões homens. Cada figura demora vários dias até estar pronta. Primeiro criam-se as formas das figuras que são postas a cozer em fornos. Depois de secas, são pintadas com tintas diluídas em óleo. E por último, são cobertas por uma camada de verniz para realçar as cores e pormenores, e para proteger as figuras.

Os conhecimentos e competências são transmitidos nas oficinas familiares e em contextos profissionais, onde os artesãos ensinam o básico do seu ofício através de iniciativas de formação não-formal.

Para além da visualidade facilmente identificável e apelativa, viva e bonita, as figuras de barro, são também uma otima maneira de imaginar a cultura da época em que foram criadas.

Ano de inscrição: 2017

 

8. Carnaval de Podence

 

 

O Carnaval de Podence ou Entrudo Chocalheiro é considerado o Carnaval mais típico e genuíno de Portugal. Realiza-se na aldeia de Podence, no concelho de Macedo de Cavaleiros, entre 3 de fevereiro e 9 de março, anualmente. É um dos eventos culturais mais importantes do norte de Portugal, com uma forte participação da comunidade local, que manteve esta tradição viva, até aos dias de hoje.

É muito diferente de outros carnavais com influências notórias do Brasil, como o de Ovar.

É uma festa que celebra o fim do Inverno e princípio da Primavera. Está associada a ritos e invocações de fertilidade. É importante também para a construção do tecido social e da economia local, rural e pós-rural. Resulta em um sentimento de pertença cultural e territorial.

Os momentos mais importantes do Carnaval de Podence são: o Domingo Gordo em que se anunciam casamentos a fingir, entre as mulheres e homens solteiros da aldeia; a 3ª feira de Carnaval, em que decorre o desfile dos Caretos; e a cerimónia da Queima do Entrudo, que anuncia o final da festa.

Ao longo dos três dias de celebração decorre um programa de atividades paralelas, como exposições temáticas, feira de produtos regionais e concertos de música tradicional, entre outras, voltadas quer para a comunidade, e também para turistas e visitantes.

 

Caretos de Podence

 

 

Figuras características e marcantes deste Carnaval singular, são os Caretos de Podence.

Os Caretos de Podence representam imagens diabólicas e misteriosas, ambivalentes em termos antropológicos, que ganham vida no Carnaval para depois sumirem durante todo o ano, até á próxima celebração. Vestem mantas grossas de lã com cores vivas, principalmente vermelho, verde e amarelo, com chocalhos dependurados, que emitem um som anunciador á distancia e ensursedor na proximidade. A sua figura é antropomórfica, e usam mascaras de nariz pontiagudo feitas de lata ou couro.

Os caretos desfilam pelas ruas com movimentos loucos e imprevisíveis, fazendo badalar os chocalhos, de forma vigorosa. Existe uma permissividade aceite, durante o período da festividade, em que é concedida liberdade ao careto para fazer tudo, ou quase tudo. Por isso a sua atitude pode parecer intimidatória, maluca, assustadora e até erótica. Na dança que fazem, os chocalhos que carregam batem nas mulheres de uma forma rudemente sedutora. Não esqueçamos a analogia com a fertilidade renovada da terra.

Também inspiram alegria desgarrada, humor, comédia saloia, que toca a audiência que ladeia o desfile. Podem entrar nas casas ou atirar certos produtos agrícolas para as mesmas. Sempre com travessuras, como o roubo ocasional de algum fumeiro, ou o deitar cinzas às pessoas.

Os caretos são sobretudo homens solteiros, embora também se vejam rapazes mais novos, os "facanitos", que imitam os caretos mais velhos. Aprender e assegurar a continuidade da tradição, é importante.

Caso visite Podence fora da altura do Carnaval pode sempre descobrir a “Casa do Careto”, um espaço museológico existente em aldeia.

 

O Carnaval de Podence é uma festa muito divertida para todos, com bom ambiente, e fulcral para o manter das tradições antigas e das relações sociais dos habitantes da região.

Ano de inscrição: 2019

 

9. Filigrana de Gondomar

 

 

A Filigrana de Gondomar é uma técnica de ourivesaria ancestral originária do concelho de Gondomar, que consiste na torção de dois fios metálicos muito finos, de ouro, prata, e mais raramente de cobre ou latão, que depois são achatados num cilindro de chapa. Esta arte secular é praticada em oficinas de pequena escala, de cariz familiar, utilizando técnicas passadas de uma geração à próxima.

A filigrana de Gondomar é caracterizada pela sua precisão e detalhamento. Os ourives formam desenhos complexos, muitas vezes inspirados na natureza, como flores, folhas e formas geométricas. As peças resultantes são frequentemente usadas na criação de joias, como anéis, brincos, colares e pulseiras.

Esta herança continua a vigorar com força no Município, exemplo disso, no ranking das oito maiores empresas portuguesas de joalharia e ourivesaria cinco são gondomarenses. A Ourivesaria em Gondomar regista cerca de 60% da produção nacional.

A importância da filigrana de Gondomar como Património Cultural Imaterial de Portugal reside não apenas na sua beleza estética, mas também na preservação das técnicas artesanais tradicionais e no papel cultural que desempenha na identidade da região e do país. A sua inclusão neste património visa salvaguardar e promover a continuidade desta arte única, valorizando-a como parte integrante da herança cultural portuguesa.

Iniciativas de preservação, promoção e transmissão do conhecimento da filigrana têm sido desenvolvidas, incluindo programas de formação, eventos culturais e museus dedicados a esta arte, contribuindo para a sua perpetuação e reconhecimento como um dos tesouros culturais de Portugal.

Ano de inscrição: 2023

 

Esperamos que depois de saber mais sobre a cultura imaterial portuguesa, se apaixone pelas suas variadas expressões, tal como nós. E é apenas o início, porque são mais, muitas mais.

Descubra estas e outras riquezas da arte e cultura intangível de Portugal com a Living Tours.

 

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