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Marco Moura |

Fado, Música com Vida Portuguesa

 

Muito já se escreveu e falou sobre o que é o Fado, a sua originalidade, sonoridade vibrante e profunda, da sua importância para a criação da consciência do que é “ser português”.

Se em termos antropológicos dificilmente se pode falar de uma “alma portuguesa”, é, no entanto, indiscutível, o contributo da música do Fado para a perceção e realização da identidade e cultura portuguesas. Cultura essa, que muito busca a sua afirmação, no tradicional e autêntico.

Talvez o melhor seja conhecermos de maneira factual, o que caracteriza o fado, para assim podermos compreender a afetividade intensa que por vezes cria, com os portugueses e pessoas de todo o mundo. E que faz precisamente deste estilo musical, uma expressão que ressoa tanto local como internacionalmente.

Em 2011, o Fado foi considerado Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO.

 

A originalidade do Fado

 

 

O fado é um estilo musical típico de Portugal, nascido no contexto urbano de Lisboa, no Séc. XIX. Muitas vezes cantado por uma só pessoa, fadista, acompanhada por uma guitarra clássica ou viola e uma guitarra portuguesa. A palavra fado deriva do latim, «fatum», e é entendida na língua portuguesa como destino, sorte ou azar, fortuna. É também uma forma de viver, sentir e exprimir, na forma de canção popular, os altos e baixos que a vida tem. E uma maneira especial de recordar, e invocar o sentimento profundo de saudade, por uma pessoa, momento ou local.

A originalidade do Fado muito advém da sonoridade dos instrumentos, da poética popular das letras, e da sua performance com vozes fortes e altivas, que não deixam ninguém indiferente. A sua estrutura melódica simples, valoriza a interpretação da voz, que por sua vez canta as palavras e significados de maneira muito clara.

Existe a ideia de que o Fado só “canta” tristeza e tragédia. Mas existem muitos temas e tipos de fado, muito alegres, festivos e até de intervenção.

 

Tipos de Fado

O fado mais antigo é o "fado do marinheiro", que constituiu o modelo para todos os outros. Desta matriz comum, criaram-se em estilos diversos ou tipos de Fado:

Fado Alcântara, Aristocrata, Bailado, Batê, Fado-canção, Castiço, Fado tradicional dos bairros típicos de Lisboa, Fado Corrido (alegre e dançável), Experimental, Fado Lopes, Fado Marcha Alfredo Marceneiro, da Meia-noite, Fado Menor (melancólico, triste e saudoso), Mouraria, Pintadinho, Fado Tango, Tamanquinhas, Fado Vadio, Vidualeiro.

A que podemos juntar uma mescla de melodias tradicionais ou populares. E músicas que incluem ou se cruzam com o fado.

 

Breve História do Fado

 

 

 

A história do Fado pode começar a ser contada com sólido grau de certeza a partir do sec. XIX, nascido nos contextos populares da Lisboa. Cantava-se Fado principalmente em momentos de convívio e lazer ou eventos festivos, nos bairros típicos, quer nas ruas, tabernas, cafés de camareiras e casas, quer em operetas e teatro de revista (um género desta arte). Expressado de forma muitas vezes espontânea, cantava a narrativa do quotidiano, amores e dissabores, vitórias e derrotas, alegria e dificuldades, recorrendo à gíria e ao calão. A primeira cantadeira de fado de que se tem conhecimento foi Maria Severa Onofriana.

 

O fado encontra-se na sua origem em a contextos sociais e lugares físicos associados a marginalidade e transgressão, em ambientes frequentados por prostitutas, faias, marujos, boleeiros e marialvas. Ambientes periféricos, potencialmente perigosos, mas que surtem desejo e atração. O caracter boémio do Fado na sua matriz, com o misto de emoção e perigo, conferiu-lhe uma aura especial que perdura até hoje.

A partir das primeiras décadas do século XX o fado vai-se divulgando e começando a ser conhecido em todas as franjas da sociedade. Para tal contribuem o apreço popular, a publicação de periódicos que se consagram ao tema, e novos espaços performativos. O Fado começa a também a ser visto sob uma perspetiva comercial. Começa também a ser nacional.

Prova disso é o aparecimento das companhias de fadistas profissionais a partir da década de 30, espetáculos, com elencos de qualidade, e a sua circulação pelos teatros de norte a sul do País, ou mesmo em digressões internacionais. Invenções técnicas como o microfone elétrico, em 1925, a rádio, o cinema com sonoridade, e mais tarde, a televisão em 1957, permitiram a sua gravação e difusão por todo o território nacional. Acresce nos dias de hoje, o mundo digital e a internet.

 

A maneira como as expressões culturais centenárias como o Fado, sofrem transformações na sua história, também é influenciada por motivos políticos e económicos.  Com o golpe militar de 28 de Maio de 1926, veio a Ditadura (1926-1933) e mais tarde Estado Novo de Salazar e Marcelo Caetano (1933-1974). Isto teve profundo impacto no fado, que foi elevado a categoria de símbolo cultural nacional, expressão de portugalidade, ou do que é ser português. É também durante este longo período que o Fado se afirma no palco internacional, primeiro nas colónias e Brasil, e depois pelo mundo. Ícone deste período áureo é a fadista Amália Rodrigues (1920 - 1999), considerada ainda hoje como a “Rainha do fado”.

Em paralelo, o Fado tornou-se mais moral, apolítico, carecendo da intervenção e provocação da sua origem. Os artistas, companhias, salas de espetáculos eram vigiados de perto. As letras passavam pela censura do regime. Afetou o carácter de improviso que faz parte da sua matriz e induziu á profissionalização de todos(as) aqueles que estavam ligados á sua criação e expressão.

 

O fado tornou-se “típico”.

Com a revolução de Abril de 1974 é instaurado o Estado democrático e a influencia da cultura de massas, da globalização, da liberdade de pensamento e expressão. O fado sofre um bocado nos anos de transição devido ao seu passado como símbolo da ditadura, mas rapidamente acede ao consenso nacional como património musical português. Figuras incontornáveis desta nova transformação do fado foram Amália Rodrigues e Carlos do Carmo, principalmente na década de 80.

A partir dos anos 90 o fado consagrar-se-ia, definitivamente, nos circuitos da música internacional com fadistas como, Camané, Mariza, Carminho, Mísia, Cristina Branco, Cuca Roseta, Gisela João, Ana Moura. Apenas para dar alguns exemplos.

Atualmente o fado tem também sido explorado em mistura com outros géneros e estilos de música. Para além do tradicional ou típico, o Fado tornou-se experimental.

 

A Guitarra Portuguesa

 

 

A guitarra portuguesa é a grande companheira da voz no Fado. Como a maioria dos instrumentos musicais cistres, do tipo cordofone, a guitarra portuguesa possui 6 ordens de 2 cordas, perfazendo 12 no total. A caixa harmónica é periforme e o seu timbre é inconfundível.

Apesar de ter sofrido importantes modificações técnicas no último século, conservou a afinação peculiar das cítaras e a técnica de dedilho. E de facto, a técnica de tocar este tipo de cordofone, baseia‐se num dedilhar especial da mão direita, usando as unhas do dedo indicador e o polegar.

Existem três tipos de Guitarra Portuguesa: a de Lisboa, a de Coimbra e do Porto.

A de Lisboa têm caixa baixa arredondada e o som é mais estridente, aberto. A cabeça da guitarra é geralmente em forma de caracol.

A de Coimbra é maior, com o corpo assumindo uma forma mais aguçada. A cabeça é em forma de lágrima.

A do Porto é a menor das três, têm um som ligeiramente mais baixo, e a cabeça têm a forma de dragão ou flor.

Alguns dos maiores de músicos da guitarra portuguesa são Armando Augusto Freire, Carlos Paredes e o seu pai, Artur Paredes, Adriano Correia de Oliveira, entre muitos outros. De quem se pode dizer, em jeito de elogio, que fazem ou faziam, as guitarras “cantar”.

 

Ouvir Fado em Portugal

 

 

Sendo um estilo musical nacional, pode-se ouvir Fado em Portugal em qualquer região do país. Ruas, casas de fado, salas de espetáculo, bares, restaurantes, festivais de música e em casas ou eventos particulares.

No entanto a sua tradição é mais forte em Lisboa, Coimbra e no Porto.

Existem muitas casas de espetáculos de Fado em Lisboa, principalmente nos bairros tradicionais da Mouraria, Bairro Alto e Alfama.

Geralmente acompanhados com jantar ou bebidas, são sítios cujas paredes contam a sua longa tradição, na cidade onde o fado nasceu.

Espectáculos de fado em Lisboa

O Fado em Coimbra, está muito ligado às tradições académicas da Universidade e dos estudantes de todo o país. É exclusivamente cantado por homens, e tanto os cantores como os músicos usam o traje académico preto. Canta-se à noite, quase às escuras, em praças ou ruas da cidade sendo os eventos mais marcantes as Serenatas. Os espaços exteriores, praças ou ruas são o palco privilegiado destas performances. Se procura um local interior, A Capela, pode ser uma boa opção.

Também na capital do Norte, se podem ouvir as vozes e guitarras deste estilo musical. O Fado no Porto pode ser apreciado em casas típicas ou barcos, sobre o rio Douro. De preferência, à noite.

 

• Espetáculo de fado no Porto com jantar

 

• Espetáculo de Fado com Visita a uma Cave de Vinho do Porto

 

• Espetáculo de Fado no Porto com prova de Vinho

 

Dica ao assistir a um espetáculo de fado: não é aconselhável bater palmas entre as músicas. Apenas no fim do espetáculo.

Poderá pedir ao artista para dedicar a música a alguém que deseje homenagear, de preferência antes do espetáculo ou no intervalo.

 

Principais artistas de Fado portugueses

Para os leitores que procuram referencias de artistas de fado para escutar deixamos aqui alguns nomes.

 

 

Artistas consagrados mais antigos:

Maria Severa Onofriana, Amália, Carlos do Carmo, Alfredo Duarte Marceneiro, Fernando Farinha, Carlos Ramos.

 

 

Artistas consagrados mais recentes ou contemporâneos:

Ana moura, Dulce Pontes, Gisela João, Mariza, Camané, Piedade Fernandes, Aldina Duarte, Ana moura, Hélder Moutinho, frei Hermano da Câmara, Ana Sofia varela, Carminho, Sara Correia, Telmo Pires, Cristino Branco, Mísia.

Outros artistas, mais tradicionais ou ousados, aparecem continuamente, e mantêm viva a vibrante sonoridade do Fado.

 

Goste-se ou não, é consensual a opinião de que ouvir fado não deixa ninguém indiferente. Um encontro com a vida dos portugueses e portuguesas, e com a vida de quem o escuta.

 

E para terminar, “silêncio, que se vai cantar o fado”:

Amália Rodrigues, Povo Que Lavas No Rio

 

| Porto | Lisboa | Portugal | Coimbra




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