O património imaterial é uma rica dimensão que compõe a identidade cultural de um país, tecida ao longo de gerações através de tradições, expressões, conhecimentos e práticas que são transmitidas oralmente, manualmente ou a partir de rituais. Em Espanha, estes elementos são exuberantes e diversificados, refletindo a riqueza da história, das crenças e da criatividade que moldaram a nação ao longo dos séculos.

Desde as festividades vibrantes até às formas de expressão artística profundamente enraizadas, o património imaterial espanhol é um testemunho vivo da capacidade humana de transmitir e preservar a cultura de forma intangível. Descubra o património imaterial de Espanha, e as tradições que o compõem, bem como a importância da sua preservação para as gerações presentes e futuras.

O Flamenco

O Flamenco é uma expressão artística que combina o canto, a dança e a musicalidade. A gama de sentimentos e estados de espírito — tristeza, alegria, tragédia, regozijo e medo — pode ser expressa através de letras sinceras e expressivas, caracterizadas pela brevidade e simplicidade. Os espetáculos de Flamenco acontecem em festivais religiosos, rituais, cerimónias, celebrações privadas ou shows locais. A transmissão ocorre através de dinastias, famílias, grupos sociais e clubes de Flamenco, que desempenham um papel fundamental na sua preservação e difusão.

Torres humanas ou “Castells”

Os Castells são torres humanas construídas por membros de grupos amadores, geralmente no âmbito das festas anuais das cidades catalãs. O cenário tradicional é a praça em frente à varanda da câmara municipal. As torres humanas são formadas por castellers que se apoiam uns nos outros numa sucessão de níveis (entre seis e dez). Antes, durante e depois do espetáculo, os músicos tocam várias melodias tradicionais num instrumento de sopro conhecido como gralla, marcando o ritmo a que a torre é construída.

As “Fallas” de Valência

A Falla é um monumento composto por ninots (peças caricaturais) criados por artistas e artesãos locais que comentam temas sociais atuais. A Festa das Fallas, que decorre de 1 a 19 de março em Valência, constitui uma oportunidade para a criatividade coletiva e para a salvaguarda das artes e ofícios tradicionais. Constitui igualmente uma fonte de orgulho comunitário, contribui para a identidade cultural e reforça a coesão social. No passado, a festa era também uma forma de preservar a língua valenciana quando esta era proibida. O ponto culminante da festa acontece na noite de 19 de março, no Dia de São José, no qual todas as "fallas" são queimadas num espetáculo espetacular. Esta queima simboliza a purificação e a renovação, além de servir como uma despedida festiva para as criações artísticas do ano anterior.

As Tamborradas

As Tamborradas, que fazem parte das celebrações católicas da Semana Santa, são rituais coletivos, ruidosos, que se baseiam na batida intensa e simultânea de milhares de tambores, tocados ininterruptamente durante dias e noites em espaços públicos de cidades e aldeias. Todos os anos, criam uma paisagem sonora e identitária cativante, num ambiente carregado de emoção e de um intenso sentimento de comunhão coletiva. O processo de transmissão desta prática gera um forte sentimento de pertença ao grupo e uma profunda ligação ao ritual entre toda a comunidade.

Festival dos Pátios de Córdoba

Durante doze dias, no início de maio, a cidade de Córdova celebra a Festa dos Pátios. As casas-pátio são habitações coletivas, familiares ou multifamiliares, situadas no centro histórico da cidade, que são que são decoradas especialmente para a ocasião. Os Pátios Cordobeses são também palco de cantos tradicionais, guitarras flamencas e danças. A festa é entendida como parte integrante do património cultural desta cidade, que lhe confere um forte sentido de identidade e continuidade. É orientado por tradições, saberes e conhecimentos seculares, que se materializam na expressão do simbolismo e das tradições da comunidade cordovesa.

Festa de La Patum de Berga

O Patum de Berga é uma festa popular cuja origem remonta às festividades e desfiles medievais que acompanhavam a celebração do Corpus Christi. A celebração tem lugar todos os anos, entre o final de maio e o final de junho. O Patum de Berga, que conservou ao longo dos séculos a sua mistura de características profanas e religiosas, distingue-se das outras festas da região que datam da Idade Média pela sua riqueza e diversidade, pela preservação do seu teatro de rua medieval e pela sua componente ritual.

Festas do Fogo do Solstício de Verão dos Pirinéus

Ao cair da noite, as pessoas de diferentes cidades e aldeias transportam tochas flamejantes pelas montanhas abaixo para acender uma variedade de faróis construídos tradicionalmente. A descida é um momento especial para os jovens, significando a transição da adolescência para a idade adulta. Esta festa nos Pirinéus é considerada um momento de regeneração dos laços sociais e de reforço dos sentimentos de pertença, de identidade e de continuidade, com celebrações que incluem o folclore popular e a refeição comunitária.

Festas da “La Mare de Déu de la Salut”

A festa de "La Mare de Déu de la Salut" é celebrada nos dias 7 e 8 de setembro, na qual cerca de 1400 pessoas participam em espetáculos de teatro, música e dança organizados nas zonas históricas da cidade: Valência, La Muntanya, Santa Bárbara e La Capella. As procissões decorrem desde a Basílica Menor de San Jaime até à Capella de la Troballa. As festividades começam com o toque dos sinos na basílica, seguido de um desfile. Todos os trajes, ornamentos e acessórios são feitos à mão, e as danças e as partituras musicais são transmitidas de geração em geração.

Mistério de Elche

A Peça de Mistério de Elche, que decorre nos dias 14 e 15 de agosto, é um drama musical sagrado sobre a morte, a passagem para o céu (conhecida como a Assunção) e a coroação da Virgem Maria. Desde meados do século XV, é representado na Basílica de Santa Maria e nas ruas da cidade velha de Elche, situada na região de Valência. É um testemunho vivo do teatro religioso europeu da Idade Média e do culto da Virgem. Esta tradição, que atrai toda a população da cidade, está intimamente ligada à identidade cultural e linguística dos habitantes da região.

O Canto da Sibila

O cântico marca a vigília anual de Natal, na noite de 24 de dezembro, e é cantado por um rapaz ou rapariga acompanhado por dois ou mais acólitos ou raparigas. Durante o cântico, caminham pela igreja em direção à capela-mor, levando o cantor uma espada nas mãos, erguida em frente do rosto, enquanto os acólitos levam velas. No final do cântico, desenha-se uma cruz no ar com a espada. O rito envolve todas as paróquias de Maiorca e as gerações mais velhas e mais novas trabalham lado a lado como cantores, figurinistas, celebrantes e outros ajudantes, assegurando assim a sua celebração e transmissão.

Os Cavalos do Vinho

Los Caballos del Vino (Cavalos do Vinho) realiza-se todos os anos de 1 a 3 de maio em Caravaca de la Cruz. O ritual equestre consiste numa série de eventos em que o cavalo é o protagonista. A relação entre o homem e o cavalo, baseada no respeito e na colaboração, é também transmitida através das gerações. As duas atividades, a vitivinicultura e a criação de cavalos, fazem parte integrante da economia, da história e da cultura do território, e a festa revela valores como a camaradagem e a solidariedade, em que todos se sentem representados como parte de um grupo socialmente unido.

➽ Sabia que a Cruz de Caravaca, também conhecida como Cruz de Malta, é um símbolo religioso que tem origem em Caravaca de la Cruz e está associada a um evento milagroso?

A lenda remonta ao século XIII, em que um sacerdote cristão foi capturado pelos mouros e trancado numa cela. No entanto, durante uma missa, dois anjos apareceram e mantiveram as portas da cela abertas, permitindo que ele celebrasse a Eucaristia. Assim, acredita-se que a Cruz de Caravaca tenha poderes especiais de proteção e cura, sendo considerada um símbolo de fé, proteção e milagres.

Em toda a sua diversidade, o património imaterial de Espanha é uma joia preciosa que reflete a essência da cultura espanhola. As festividades, músicas, danças, rituais e expressões linguísticas que compõem este legado imaterial não apenas enriquecem a vida quotidiana, mas também conectam as gerações atuais com as raízes profundas do passado.

No entanto, esta herança intangível não é imune ao fluxo do tempo e à pressão da globalização. A preservação do património imaterial não é apenas uma questão de honrar o passado, mas também de garantir a continuidade de tradições que têm o poder de unir as pessoas, reforçar identidades e proporcionar um sentido de pertença essencial.

Aproveite e descubra o Top 10 do Património Material Mundial da UNESCO em Espanha.

Visite a Living Tours para mais experiências de viagem em Portugal e em Espanha. E explore mais ideias de viagem na Living Magazine Blog.