"Hmm... já cheira a Natal..."

Em Portugal, o Natal cheira a azevinho e pinheiro, com fragâncias de bacalhau e doces sem fim, nuances de mil luzes, e ainda, notas musicais.

Pé ante pé, chega o Natal a Portugal.

Trilhando o país de uma ponta à outra, encontramos decorações e cânticos alusivos à época em cada esquina, rua, casa ou monumento. Aldeias há, que pelo seu próprio charme, parece que vivem o Natal ao longo do ano, como é o caso da aldeia presépio do Piódão.

Existem cidades que abraçam o espírito natalício criando Parques Temáticos para os mais novos, como Óbidos - A Vila Natal, ou Santa Maria da Feira - Perlim. Para os graúdos, surgem os mercados de Natal, onde os artesãos portugueses dão asas à imaginação.

Dentro de portas, também reina o espírito natalício. De pantufas nos pés, as crianças vibram quando chega o momento de ajudar os pais a decorar a Árvore de Natal, empoleirando-se no Pinheiro para colocar as bolas e outros enfeites. Apesar de haver famílias que optam por decorações mais contemporâneas, por norma, numa casa portuguesa, sempre se encontra um presépio em merecido local de destaque. Há quem mantenha o costume bem antigo de o colocar numa macia cama de musgo e de não colocar o Menino Jesus!!!!! Intrigado?? Os portugueses, por tradição, colocam o Menino apenas depois da Missa do Galo, que assinala o Nascimento de Jesus, às 00h00 de 25 de dezembro.

Nos tempos que correm, os pequenos petizes escrevem cartas ao Pai Natal pedindo o seu presente favorito e explicando o quão exemplar foi o seu comportamento ao longo do ano. No entanto, recordo-me de em criança a minha avozinha me dizer que era o Menino Jesus que me oferecia os presentes... esta era a velha tradição. Independentemente de quem venha a oferenda, as crianças abrem os presentes à meia-noite de 25 de dezembro, ou já só na manhã seguinte.

A noite de Natal está envolta de magia. Com um brilho no olhar, toda a família reúne-se à volta de uma mesa decorada a preceito, onde a luz das velas traz a paz e a esperança. Na grande maioria das casas portuguesas o repasto consiste no tradicional bacalhau cozido. No entanto, há regiões que têm por tradição também outros pratos: Algarve - galo de cabidela; Trás os Montes - polvo cozido; Lisboa e Vale do Tejo - peru assado; Açores - há quem opte por torresmos com inhames e morcela com batata doce.

O momento que se segue é de bradar aos Céus! Muitos são os que fazem dieta nos dias que precedem esta noite só para se deliciarem com as 1001 sobremesas da mesa de Natal: o Bolo Rei (recheado de frutos secos e frutas cristalizadas é uma clara referência às oferendas dos Três Reis Magos); o Pão de Ló; Rabanadas; Sonhos; Azevias; Coscorões; Filhoses; Aletria; Arroz Doce; Leite Creme; Queijos; Vinho do Porto... uma doçaria sem fim, que faz qualquer um se levantar da mesa com uma barriga a rivalizar com a do Pai Natal.

Este é o Natal que todos os portugueses vivenciam. Contudo, há locais que têm as suas próprias tradições de Natal.

De forma carinhosa apelido o meu país de "mantinha de retalhos". Temos um sentimento de nação única, mas cada região tem a sua identidade, as suas próprias tradições, como as da época natalícia.

Já alguém ouviu falar da Festa dos Rapazes? E das Missas do Parto? E do Madeiro de Natal? D'O Menino Mija? Casa das Bananas? Algum leitor já cantou as Janeiras?

Acredito que ficou curioso.

Festa dos Rapazes (Trás os Montes)

Na região de Trás os Montes, as pessoas acreditam de igual modo tanto na existência de Deus e dos santos, como na do demónio e das bruxas. Assim, por estas paragens, o profano e o sagrado andam de mãos dadas.

De 24 de dezembro a 6 de janeiro, durante o Solstício de Inverno, num passado pagão, as gentes destas terras celebrariam o culto ao Sol. Com o advento do cristianismo, estas festividades terão sido adaptadas pela Igreja, dedicando-as a Santo Estevão.

A Festa dos Rapazes celebra a passagem de meninos de cerca de dezasseis anos à idade adulta. Ao toque de gaitas-de-foles, tambores e cânticos, é ver um grupo de mascarados envergando trajes e máscaras tradicionais a desfilar pela aldeia. Há tempo para peditórios e para tropelias.

Missas do Parto (Madeira)

De 16 a 24 de dezembro, a Madeira celebra uma das suas principais tradições de Natal: as Missas do Parto.

Costume antigo e documentado pelo menos desde o século XVIII, estas missas são celebradas de madrugada, entre as 5h e as 7h da manhã. Consistem em 9 missas celebradas na novena que antecede o dia de Natal.

No dia 17 de dezembro, a Igreja celebra a Festa de Nossa Senhora do Ó, como tal, os madeirenses celebram as noves missas do parto em honra da Virgem pelo parto divino que Ela terá, culminando com a Missa do Galo que celebra o Nascimento do Menino Jesus.

E se pensa que pela hora da missa as igrejas estão vazias, pois desengane-se. Por norma estão bem lotadas, uma vez que terminado o ato litúrgico, é tempo de comes e bebes, onde não faltam as tradicionais Poncha e Broas de Mel.

Madeiro de Natal (De Trás os Montes ao Alto Alentejo)

Já imaginou reunir-se com a comunidade onde reside, à volta de uma gigantesca fogueira?!? Em Portugal isso é possível. É precisamente o que acontece depois da Missa do Galo em algumas aldeias do interior de Portugal, onde o frio mais aperta.

E quem apanha toda aquela madeira? Em alguns locais, havia o costume de serem os solteiros ou os jovens destacados para o serviço militar. Atualmente, todos ajudam.

O Menino Mija? (Açores)

Por todo o mundo, amigos e família reúnem-se durante esta quadra para jantares, convívios, festas. Os Açorianos não são exceção. Vários grupos de homens e mulheres andam de casa em casa visitando familiares e amigos. Depois de bater à porta há senha para entrar. Há que perguntar: "O Menino Mija?". Posto isto, a porta abre e há doces e licores tradicionais para degustar, que por estes dias
(entre 24 de dezembro e 6 de janeiro) estão sempre na mesa à espera de uma visita.

A tradição é tão acarinhada que já existe um licor com o seu nome.

Casa das Bananas (Braga)

Já alguma vez comeu uma banana acompanhada de Moscatel?

Em Braga, é tradição "Comer uma banana e beber um banano."

Na Rua do Souto, em plena zona comercial, encontra-se a Casa das Bananas. Há cerca de 40 anos, surgiu a tradição de, depois de encerrarem as suas lojas no dia 24 de dezembro, os comerciantes se reunirem nesta Casa para desejar as Boas Festas aos colegas de profissão, com um copo de moscatel numa mão e uma banana na outra.  O passa palavra fez com que outros aparecessem e atualmente são milhares as pessoas que ocorrem à Casa para cumprir a tradição. É tanta gente, que a rua fica apinhada e muitos já levam de casa a sua banana e o seu moscatel.

Vai um copito?

Cantar das Janeiras (por todo o País)

A partir de dia 1 de janeiro até ao Dia dos Reis (6) podemos encontrar grupos de pessoas a circular pelas ruas cantando as Janeiras.

Por tradição, estes grupos vinham às sobras dos grandes repastos da época. Atualmente, os portugueses oferecem dinheiro ou chocolates que depois são repartidos por todos os elementos.

Os grupos cantam músicas tradicionais, desejando um bom ano e quando alguém nada oferece, por vezes cantam letras onde demonstram o seu descontentamento.

Zeca Afonso, cantor português, tem uma canção intitulada "Natal dos Simples", que fala em cantar as Janeiras:

"Pam parara piri Pam parara piri Pam Pam Pam Pam"

Tendo sido lançada esta música em 1968, durante a Ditadura em Portugal, havia quem trauteasse à boca pequena:

"Vão parar à PIDE, Vão parar à PIDE, VÃO VÃO VÃO VÃO."

...numa clara referência à polícia política do regime político da época, a PIDE.

De Norte a Sul, no continente ou nas ilhas, Portugal é um país que celebra o seu Natal com tradições, comida, decorações e um sentimento único de partilha em família e amigos.

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Aproveite também para fazer um passeio natalício de Tuk Tuk no Porto, explorando os mercados de Natal de uma forma divertida.

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E este ano como vai ser o seu Natal em Portugal?