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Vítor Bezerra |

Lendas & Tradições - Cafés Históricos do Porto - O Piolho

 

Lendas & Tradições - Cafés Históricos do Porto

por Nuno Mendes, Guia da Living Tours


Café Âncora d'Ouro

 



Sujeitos a uma depreciação acentuada do seu valor social, antropológico, histórico e memorial, às transformações sofridas ao longo dos tempos e às pressões de encerramento de que muitos foram alvo e alguns não resistiram, os Cafés Históricos do Porto, desde meados da primeira metade do século XIX – altura em que começaram a surgir nesta cidade – que fazem as delícias de portugueses, portuenses e turistas, pelo facto de terem sido e serem ainda na atualidade, locais de fuga à azáfama da vida quotidiana, de convívio, de tertúlias e, para muitos, de trabalho – sabendo que por muitos destes cafés passaram, ao longo dos séculos XIX e XX, algumas das mais ilustres personalidades portuenses do campo das artes e das letras.

Inaugurado em 1883, na Praça de Parada Leitão, especificamente, na Rua Latino Coelho, de frente para a fachada poente do edifício da Academia Politécnica do Porto, o Café Âncora d'Ouro é um dos mais interessantes e importantes cafés históricos da cidade.

 


Apesar de se desconhecerem os proprietários de fundação deste café sabemos, no entanto, que, em 1909, o estabelecimento foi trespassado a Francisco José de Lima, antigo empregado de mesa do extinto Café Martinho. Manteve-se, ulteriormente, na posse da família Reis Lima, mais concretamente, na do filho de Francisco Lima. Em 1979, José Martins, José Pires e Edgar Gonçalves, tomaram posse do estabelecimento, permanecendo seus proprietários até hoje.

Um dos aspetos mais interessantes deste café diz respeito à terminologia pela qual é conhecido, Piolho. Naturalmente que o seu nome oficial é Âncora d'Ouro, no entanto, o epíteto de Piolho que é dado a este café é justificado por duas teorias muito curiosas: a primeira diz respeito à prolífera aglomeração de estudantes universitários que, desde sempre, se foram concentrando no espaço interior de tão reduzidas dimensões deste estabelecimento. A segunda é-nos descrita na revista Alumni U.Porto de 2009 informando-nos que “os piolhos que deram nome à casa eram, na verdade, a arraia-miúda que desaguava no café logo pela matina. […] Leiteiras, padeiras e carniceiras vinham com uma caneca de alumínio tomar lá café com leite”. Talvez por esta razão os estudantes começassem a chamar àquele espaço uma piolheira.

Outros aspetos de relevo dizem respeito ao facto deste café ter sido o primeiro do Porto a ter eletricidade, novidade tecnológica que orgulhosamente exibia num conjunto de doze lâmpadas à volta de uma coluna no meio da sala e que ainda hoje lá se encontram. Este estabelecimento foi também o primeiro da cidade a adquirir a famosa máquina La Cimbali, que deu nome ao cimbalino, pelo qual é conhecido o café expresso na cidade do Porto.

Não podemos também esquecer que este tipo de espaços eram, frequentemente, utilizados como primeiro local de delineamento de conspirações, de rivalizações liberais, tão características da centúria de oitocentos portuense. Neste sentido várias eram as quezílias que, por vezes, se desenvolviam no interior e que acabavam em autêntica pancadaria. Numa destas quezílias recordamos uma, entre muitas efemérides ocorridas em pleno final do século XIX no local. A polícia a cavalo tinha sido chamada para resolver uma situação de atrito entre os vários estudantes e liberais que la se encontravam. No entanto, a decisão da autoridade policial não foi deveras a mais prudente, uma vez que decidiu entrar, a toda a velocidade, no estabelecimento. Como o pé-direito deste edifício é muito baixo, o que aconteceu foi que o agente da autoridade foi projetado contra parede e só entrou o cavalo no café, causando o caos que podemos imaginar.

O Café Âncora d’Ouro desde sempre se notabilizou como o estabelecimento de eleição dos estudantes da Universidade do Porto, realidade que se mantem até hoje. É curioso perceber que a sua dispersão pelo interior do estabelecimento nunca foi aleatória. Conforme o curso e o nível de estudos alcançado, os espaços que normalmente ocupavam eram muito específicos. Na mesma revista Alumni U.Porto de 2009 podemos ler entre as páginas 14 e 17 que “os catedráticos de Ciências ficavam junto à entrada e um pouco mais a meio. Os estudantes de Engenharia e de Economia sentavam-se próximos do espelho, do lado contrário da entrada. E os de Medicina ao canto, junto à parede e ao quiosque. Mas havia também os de Farmácia, que vinham de um pouco mais longe (Cedofeita), e, um tempo depois, também os de Letras e os das Biomédicas se tornaram habitués".


Todavia, a frequência de estudantes não era exclusiva. Também por aqui deambularam o antigo reitor da Universidade do Porto, Ruy Luís Gomes, o poeta Manuel António Pina, o historiador e político José Pacheco Pereira, os deputados Alberto Martins e Strech Monteiro e o linguista Óscar Lopes. Na atualidade, por lá passam, periodicamente, o poeta Jorge Sousa Braga, o ator António Capelo, o escritor Carlos Tê, o cantor Rui Reininho e muitos outros.

Todos estes aspetos naturalmente contribuem para que este seja um dos mais antigos, históricos, simbólicos e carismáticos cafés da invicta, fazendo parte das ricas memórias da cidade do Porto.

 

Conheça esta e outras lendas no tour da cidade do Porto com a Living Tours.

 

| Porto | Portugal




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